Texto curatorial

Texto curatorial

Alvos moles que bailam na noite sem fim

por Aldones Nino

Na série ​Balada, iniciada em 2019, Osvaldo Carvalho hibridiza a pintura com resquícios de suas práticas artísticas no espaço público, pensada junto aos processos de inscrição sobre a cidade, agora materializadas em pinturas de paisagens urbanas. Nestas diminutas pinturas, emergem ecos de distintos grupos sociais que disputam espaços de comunicação, vistas transpassadas pelas urgências em recortes sobrepujados pela invocação à observação de paisagem, no intento de desvelar múltiplas camadas de um complexo amálgama territorial.

A Balística estuda o movimento dos projéteis, e tem na Balística Terminal, uma subdivisão, enfocada no comportamento do projétil no momento em que ele atinge e penetra o alvo. Classificando estes entre Alvos Duros e Alvos Moles, o primeiro, como o nome indica, superfícies resistentes, e o segundo denominando animais e seres humanos. Alvos Moles deslocam-se pela cidade, sob o risco de ir ao encontro de projéteis, que rompem o corpo vivo. Logo, as cidades são um palco, onde trajetórias findam-se.

Nesta série de pinturas, Osvaldo Carvalho adiciona a materialidade das balas perdidas, que agora encontradas são exibidas. Cada uma emula uma pequena vitrine, resguardando joias forjadas a partir de fragmentos de tecnologias de caça e de morte. Estilhaços que desviaram de seu télos, e que irromperam na vida do ateliê, logo sendo redirecionados para a galeria em exposição. O trabalho vai crescendo à medida que outros projéteis e memórias vão de encontro a Osvaldo, aumentando exponencialmente suas possibilidades de criação. Série contínua, que vem sendo desenvolvida ao longo dos últimos três anos, contando hoje com mais de cinquenta pequenos arranjos, pepitas que não encontraram alvos moles.

Nas obras aqui reunidas, vemos a interdição do uso dos espaços, convivendo ao lado de promessas esquecidas, onde um cristianismo opaco se mescla com sabedorias oraculares, polarizações e ficções que ordenam nosso presente. A efusividade da propaganda ignora a arquitetura apropriada sob a qual se interpõe, duas camadas de códigos distintos, cadeias produtivas globais e espaços urbanos. Mensagens que beiram o arruinamento, acúmulos, que se plasmam na parede, e vão se acotovelando, resistindo às intempéries, com sua mensagem, borrada, sobreposta, opaca, mas ainda assim presentes.

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