Yara Tupynambá – Pintando a Natureza

14 de junho a 24 de julho de 2016

YARA TUPYNAMBÁ NA CASA FIAT DE CULTURA

Artista mineira comemora 60 anos de carreira com inédita exposição de pinturas da natureza, dentro da programação dos 10 anos da Casa Fiat

Uma das artistas plásticas mineiras mais conceituadas da atualidade, Yara Tupynambá completa seis décadas de carreira. Em celebração a tal consagrada e enérgica trajetória, a Casa Fiat de Cultura realiza, de 14 de junho a 24 de julho, a exposição inédita “Yara Tupynambá – Pintando a Natureza”, com obras que representam a dedicação da artista às pinturas de paisagens naturais. Com entrada gratuita, o público poderá apreciar o mais representativo conjunto de trabalhos da pintora sobre a natureza, além de uma linha do tempo com um panorama de sua vida e de sua obra.

Sob curadoria da própria artista, a mostra reúne 48 obras e é dividida em quatro séries significativas, que representam importantes ecossistemas de Minas Gerais: “Vale do Tripuí”, “Rio Doce”, “Serra do Cipó” e “Inhotim”. Com pesquisa apurada e observação in loco de cada paisagem reproduzida, os quadros vão além da arte e são um trabalho documental da flora mineira. A cada pincelada, é possível admirar as belezas da natureza mineira, eternizadas em belas telas, criadas recentemente pela artista, entre os anos de 2005 e 2016. As obras pertencem ao acervo da própria artista e a coleções particulares, e foram produzidas em acrílica sobre tela. Além disso, a mostra conta com nove desenhos em carvão sobre papel, que representam paisagens urbanas com foco na comunidade da Barragem Santa Lúcia e serão expostos no hall de entrada da Casa Fiat de Cultura.

As pinturas expostas vão além do sentido da arte. A partir de sua obra, Yara Tupynambá busca sensibilizar o público a respeitar e a preservar a natureza. Se os registros são impressionantes e impactam pela expressividade e pela paixão da pintora pelas paisagens, é importante ressaltar que a natureza ali presente está no coração das matas e florestas, que são um resumo dos ecossistemas mineiros e só foram preservados por se encontrarem em reservas ecológicas. Ao longo de sua carreira, Yara se destacou pela ligação às causas sociais e culturais, ao observar incessantemente o cotidiano e transmitir, em suas obras, a compreensão de si e do mundo que a cerca. Aos 84 anos, em plena atividade e com espírito desbravador e aventureiro, a artista estudou com afinco as vegetações, para chamar a atenção sobre a necessidade de perenizar e conservar as deslumbrantes paisagens.

Yara Tupynambá explica que pinta lugares ainda existentes, mas que, em breve, devido à cobiça das pessoas, deixarão de existir. “Quero conservar na memória as imagens vistas nas reservas ecológicas onde estive. Focalizei as florestas e lagos do Vale do Rio Doce, a mata do Jambreiro, o Vale do Tripuí, os campos rupestres da Serra do Cipó. Procuro lembrar a todos que a conservação desta face da beleza, que é a natureza, depende de cada um de nós”, acrescenta.

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, a exposição está entre as mais expressivas da artista. “Não só Yara nos devia uma grande mostra, desde sua retrospectiva apresentada há anos no Palácio das Artes, como ainda o presente momento é o mais notável de um mergulho na natureza, um desdobramento significante de sua carreira”, completa.

Quanto aos oito desenhos em carvão sobre papel, trata-se de trabalhos da série “Comunidades”. Com medida de 100×80 cm,  representam paisagens urbanas e serão expostos no hall de entrada da Casa Fiat de Cultura. Yara Tupynambá explica que o desenho remonta ao início de sua trajetória artística. A partir dele, ela pôde aprender as técnicas, as sombras, os traços, e passou a desenvolver outras linguagens, como a pintura. A intenção de apresentar as obras em espaço distinto à sala de exposição é a de reforçar esse caráter de prefácio, do princípio de todos os trabalhos artísticos de Yara, em uma mostra que lhe homenageia a vida e a obra. Segundo a artista, “o desenho é a base de tudo. Por meio dele, entendi a linha, o espaço e a forma. É preciso desenhar para que se chegue ao conceito. Quero reforçar aos novos artistas e às próximas gerações a importância de produzir o esboço e de estudar a obra antes de partir para a pintura”, conclui.

A exposição é um projeto viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e pelo Ministério da Cultura, por meio do Governo Federal. Com realização da Casa Fiat de Cultura, a mostra conta com patrocínio da Fiat e do Banco Safra e apoio de Consita, Prodigital, Usifast, do Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Histórico de Minas Gerais (IEPHA-MG), Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais e Governo de Minas Gerais, além da parceria do Instituto Unimed BH.

Percurso entre os campos e as florestas de Minas

Já na entrada da galeria, o visitante é introduzido à temática da natureza pelas mais variadas imagens das reservas registradas por Yara Tupynambá. Ampliações de detalhes das obras feitas em tecido, as imagens demonstram a força e a delicadeza das matas e flora de Minas Gerais. A seguir, na primeira sala, uma linha do tempo leva o público a conhecer um pouco mais da vida e da obra da artista, numa retrospectiva de seus principais momentos, obras e exposições. O primeiro registro de sua experiência artística retrata Yara ainda aluna do mestre Guignard, em seu ateliê, em 1957.

Na sequência, são apresentadas as 48 pinturas inéditas, separadas pelos respectivos registros de reservas ecológicas: Serra do Cipó, Vale do Tripuí, Inhotim e Vale do Rio Doce. As obras retratam, em detalhes, as principais espécies da flora mineira, de modo a valorizar um dos principais tesouros do Estado. Para concluir, a exposição culmina com um registro em vídeo da artista em meio à mata.

Reservas ecológicas

Estação Ecológica do Tripuí tem área de 337 hectares e está situada na entrada da cidade de Ouro Preto. A palavra Tripuí, que nomeia o principal Córrego da Unidade, é de origem Tupi e quer dizer “água de fundo sujo”. Localizada junto ao trevo de entrada da cidade, a Reserva do Tripuí é um dos sítios ecológicos mais importantes do Brasil, e revela um curioso personagem: o raríssimo fóssil vivo Peripatus acacioi, parecido com uma lesma, que encontra, na reserva, seu habitat natural.

Outra reserva registrada é a Floresta do Parque Estadual do Rio Doce, que, com área de 35.970 hectares, situa-se na região do Vale do Aço – Marileia, Dionísio e Timóteo. A unidade de conservação abriga a maior floresta tropical de Minas. Com notável sistema lacustre, composto por quarenta lagoas naturais, o Parque proporciona um espetáculo de rara beleza. Árvores centenárias, madeiras nobres de grande porte e uma infinidade de animais nativos compõem o cenário de um dos poucos remanescentes de Mata Atlântica no Brasil.

Já o Parque Nacional da Serra do Cipó, situado na serra do Espinhaço, possui área de 33.800 hectares, que corresponde à superfície total da cidade de Belo Horizonte. Com perímetro de 154 quilômetros, localiza-se na área central de Minas Gerais, na parte sul da cordilheira do Espinhaço, envolvendo terras dos municípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e Itambé do Mato Dentro. A diversidade da vegetação presente no Parque é altíssima e muitas espécies são encontradas apenas no local. A topografia e a variação do clima nas diversas altitudes do lugar deram origem às matas de galeria, aos campos rupestres e aos campos cerrados.

Dentre as reservas registradas, a única criada pelo homem é Inhotim, que fica na cidade de Brumadinho e conta com área de 786 hectares. Considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina, o Inhotim é a sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil. Os jardins do Inhotim são singulares, com beleza rara e paisagismo que explora todas as possibilidades estéticas da coleção botânica. Para além da contemplação, os jardins funcionam como campo para estudos florísticos, catalogação de novas espécies botânicas, conservação e ações de educação ambiental. Em 2010, o Instituto Inhotim recebeu a chancela de Jardim Botânico, atribuída pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB), e, desde então, integra a Rede Brasileira de Jardins.

Pinturas da natureza

O contato cada vez mais intenso com a paisagem observada de perto provoca uma renovação no gênero paisagístico, que, pouco a pouco, se distancia das paisagens míticas idealizadas. Registrar a paisagem passa a ser mais importante do que inventar paraísos naturais imaginários ou mitológicos. Dentre os gêneros pictóricos, a pintura da natureza é um tema amplo, que visa representar fenômenos ou agentes naturais (plantas, animais, paisagens, fenômenos meteorológicos, pequenos pormenores etc.).

Na história da arte, os registros de natureza em pinturas remontam aos registros de viagem de Albrecht Dürer (1471 – 1528) figuram entre as primeiras paisagens realizadas. O estilo se afirma como especialização artística em meados do século XVII, vindo a se tornar de importância capital com os impressionistas.

 

 

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