“TRANSFORMAR, DEFORMAR, DISSIPAR”: THAIENY DIAS
NA PICCOLA GALLERIA DA CASA FIAT DE CULTURA
A partir de autorretratos incomuns, a artista visual cria pinturas que reúnem
conceitos clássicos e contemporâneos da história da arte
Do diálogo entre duas linguagens artísticas, a fotografia e a pintura, a Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura apresenta sua nova exposição. “Transformar, deformar, dissipar” afirma o trabalho de experimentação da artista visual Thaieny Dias, que traz 16 telas entre aguadas em nanquim, acrílicas sobre tela e sobre madeira, em pequenos, médios e grandes formatos, geradas a partir de autorretratos fotográficos. A mostra tem entrada gratuita e pode ser vista entre os dias 28 de março e 23 de abril de 2017.
O processo criativo desta série começou quando Thaieny Dias tirou uma foto do próprio rosto, uma “selfie”, e percebeu que a imagem havia ficado desfocada e tremida. Em vez de descartá-la, a artista identificou ali uma nova imagem de si mesma. Então, com a câmera em posições diferentes de seu rosto ela fez outros autorretratos e utilizou as imagens resultantes da ação como matrizes para a criação de pinturas. A artista criou então a série “Limites da Existência Corporal na Imagem”, com cerca de 50 telas, mas, para a exposição na Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura, selecionou 16 delas, em dimensões variadas, todas produzidas entre 2015 e 2016. A curadoria é de Joyce Delfim, pesquisadora de Teoria e História da Arte com especialização em estudos sobre o feminismo no contexto brasileiro das artes visuais.
“Cada pessoa pode ter uma leitura da minha obra, claro. É difícil prever o que elas vão apreender. Algumas já me disseram que enxergam certa violência nessas telas, por exemplo. Mas eu gostaria que elas percebessem a presença da fotografia e, ao mesmo tempo, de como a pintura foi capaz de também congelar um instante de movimento”, comenta Thaieny Dias.
O título da exposição “Transformar, deformar, dissipar” faz referência às variações da figura humana que a pintura permite gerar. Neste caso, a pintura não destrói, apaga nem exclui; ela transforma, muda a perspectiva, transfigura, apresenta o rosto de forma incomum. Segundo a artista, a fotografia captura uma parcela do tempo, mas a pintura em movimento congela outra parcela do tempo, também em movimento. “Fico muito imersa no processo de pintar uma tela. A pintura é um meio de representação forte, que abrange muitas possibilidades e que tem experimentado um revival por parte de jovens artistas. O que me atrai nessa técnica é justamente esse universo de possibilidades”, destaca.
Apesar da estética e conceito contemporâneos, o trabalho de Thaieny dialoga com um dos mais tradicionais gêneros da história da arte: a pintura de autorretrato. Entre os anos de 1861 e 1880, Paul Cézanne, referência do gênero para Thaieny, realizou uma célebre série de autorretratos. Assim como ele, outros artistas também experimentaram em algum momento da carreira as autorrepresentações, como Eliseu Visconti, Ismael Nery, José Pancetti, Frida Kahlo e, mais recentemente, Arnulf Rainer e Cindy Sherman.
Em sintonia com discussões sobre igualdade de gênero e outras reivindicações civis femininas, a artista joga luz para uma pauta atual: a representação das mulheres na história da arte. Na opinião de Thaieny, a autorrepresentação de uma artista visual é também uma forma de resistência das mulheres. “A imagem de uma mulher sempre foi apropriada pelos homens, quando eles pintavam sempre as mulheres nuas ou em posições e situações que os agradavam. A mulher não tinha poder sobre sua imagem. Como artista, eu não consigo me dissociar de um contexto social e, portanto, essa pode ser também uma das leituras do meu trabalho”, completa.
Em 2016, ano em completou 10 anos de atividades, a Casa Fiat de Cultura abriu as portas da Piccola Galleria, seu novo espaço para as artes visuais, em um programa de seleção de exposições individuais ou coletivas. A instituição convidou os artistas Yara Tupynambá, Miguel Gontijo, Fernando Pacheco e Umberto Nigi, que já realizaram exposições na Casa Fiat e têm visões e opiniões distintas sobre a arte, para selecionar os trabalhos. Dentre os 40 inscritos, os artistas Antonio Pinto da Fonseca Junior, Daniel Pinho, Daniel Tavares, Marcus Amaral, Renata Laguardia e Thaieny Dias foram os seis selecionados desta edição, que contará com uma série de mostras inéditas e de curta duração, que se encerra em 2017, sempre com entrada gratuita.
A exposição “Transformar, deformar, dissipar: Thaieny Dias na Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura” é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Casa Fiat de Cultura, com o apoio do Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA), Banco Fidis, Fiat Finanças, CNH Industrial, New Holland, Banco Safra, Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), Governo de Minas e Governo Federal.
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