AS MUITAS FACES DE ALEIJADINHO
Guiomar de Grammont, convidada ao Ciclo de Palestras da exposição Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro na Casa Fiat de Cultura, levanta a questão de mitos e fatos sobre Aleijadinho
O Aleijadinho presente no imaginário dos brasileiros, responsável por algumas das mais belas esculturas da manifestação barroca no Brasil, pode não ser aquele ícone que todos julgam conhecer. A ideia, polêmica, mas com embasamento acadêmico, é da escritora e pesquisadora Guiomar de Grammont, que apresenta a palestra “Aleijadinho e o Aeroplano”, no dia 12 de agosto, às 19h30, na Casa Fiat de Cultura. A conferência, que integra a programação paralela da exposição Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro, égratuita, com espaço sujeito a lotação (200 lugares). Buscando promover uma enriquecedora discussão a respeito das faces do barroco brasileiro e italiano e seus grandes mestres, a Casa Fiat de Cultura trouxe importantes nomes do ramo para que o público pudesse se surpreender com novos conceitos, informações e se aprofundar no universo barroco.
Entre os questionamentos da palestrante estão a paternidade do escultor e até se ele seria tão deformado quanto relatado, uma vez que não existem provas sobre sua doença e o impacto em seu ofício. Além disso, muitas de suas obras seriam na verdade uma confecção coletiva de seu ateliê, o que, possivelmente, ocasionou em muitos artistas que ficaram desconhecidos e elevaram o nome de Antonio Francisco Lisboa como o grande artista de sua época. A palestra propõe a discussão da constituição do mito – determinada por sua adequação a um ideário nacionalista, inicialmente, romântico e, depois, modernista – que agigantou-se a ponto de esmagar a memória e o interesse por todos os outros artífices do período colonial.
Grammont defende, pela da análise da documentação que encontrou sobre o artífice, que Antônio Francisco Lisboa foi um escultor pobre e mulato que efetivamente existiu e viveu no século XVIII. O personagem “Aleijadinho”, por outro lado, seria um mito sucessivamente apropriado em diversos discursos sobre letras e artes no Brasil. “Essa apropriação teve o efeito de um eco: a maior parte dos estudos produzidos sobre o artífice ao longo do século XX repetiu os dados que se encontravam na primeira biografia, de Rodrigo Ferreira Bretas, publicada em 1858. Destacam-se, nesse processo, dois movimentos de constituição do que seria a arte brasileira: o do IHGB, nacionalista e romântico, ainda com fortes raízes metropolitanas, e o do Modernismo, completamente diferente: buscando ressaltar todo o exotismo de uma cultura híbrida. O Aleijadinho se torna outro, a cada contexto histórico”, explica a palestrante. Para o Instituto Histórico Geográfico, por exemplo, ele foi branco e filho de português; enquanto o modernismo enfatizou o lado mestiço do personagem, filho de uma escrava.
O título da palestra é outro tópico que merece ser comentado. Ao fazer um paralelo, que a princípio é curioso, entre o mestre do barroco brasileiro e o aeroplano, Guiomar de Grammond faz uma referência a uma epígrafe, um fragmento do discurso do Conde Afonso Celso, de 1911, que diz que Aleijadinho, antecedendo Santos Dumont, teria construído uma espécie de aeroplano, com o qual chegou a “desprender-se da terra e cavalgar a inconsistência do espaço…”. No entanto, para ela, esse “aeroplano” é uma metáfora do mito do artista, que traça cincunvoluções através dos tempos. “Essa metáfora instaura um paradoxo imediatamente intrigante e irônico, pois é claro que não havia aeroplanos no século XVIII. O mito do Aleijadinho também foi construído e reconstruído, em diversos contextos, anacronicamente, ou seja, sem levar em conta o que seria de fato a vida de um artífice daquela época, quando o conceito de “artista”, tal como o conhecemos hoje, nem existia”, completa a escritora.
A palestrante
Guiomar de Grammont é escritora, doutora em Literatura Brasileira pela USP, com estagio na EHESS de Paris, onde lecionou como professora visitante. Foi diretora do Instituto de Filosofia Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto, onde leciona desde 1994. Criou e coordena o Fórum das Letras de Ouro Preto há 10 edições. Foi curadora nas Bienais do Livro do Rio de Janeiro, Minas e Bahia. Premiada com a Bolsa Vitae e o Casa de las Américas, publicou diversos livros, entre eles, Aleijadinho e o Aeroplano: paraíso barroco e a construção do herói colonial; Don Juan, Fausto e o Judeu Errante em Kierkegaard e Sudário (contos, prêmio Casa de las Americas). Acaba de deixar a editoria executiva de ficção nacional que exerceu na Editora Record por um ano e oito meses, para se dedicar à sua própria literatura.
Ciclo de palestras
A cada exposição, a Casa Fiat de Cultura realiza um ciclo de palestras para que o público possa conhecer mais sobre a temática de suas mostras. Com duração de cerca duas horas, elas são ministradas por renomados especialistas da arte. Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro na Casa Fiat de Cultura apresenta ao público 20 esculturas italianas, que nunca saíram da Itália, sendo 16 do acervo do Museo del Tesoro di San Gennaro, maior instituição com esculturas em prata do mundo. Outros 20 trabalhos brasileiros completam a exposição, obras nunca antes reunidas, sendo sete de Aleijadinho e outras de grandes mestres, que buscam promover um contraponto entre o Barroco que nasceu em Nápoles e floresceu em Minas Gerais.
A programação do Ciclo de Palestras se encerra com Rodrigo Faleiro, no dia 19 de agosto, sobre o patrimônio material e imaterial do Barroco. Todas as palestras são gratuitas e realizadas às 19h30.
SERVIÇO
Palestra da exposição Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro na Casa Fiat de Cultura
12 de agosto, às 19h30
Palestra: “Aleijadinho e o Aeroplano”
Palestrante: Guiomar de Grammont
Local: Auditório da Casa Fiat de Cultura – Praça da Liberdade, 10, 4º andar – Funcionários – Belo Horizonte, Minas Gerais.
Entrada gratuita
Sujeito a lotação – 200 lugares
Informações: 3289-8900 ou www.casafiatdecultura.com.br
Praça da Liberdade, nº10, Funcionários | CEP: 30140-010 | Belo Horizonte/MG - Brasil
Tel: +55 (31) 3289-8900
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Visitas agendadas sob consulta
TODA PROGRAMAÇÃO DA CASA FIAT DE CULTURA É GRATUITA
Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.
Plano Anual Casa Fiat de Cultura
2024 – PRONAC 234590