A exposição traz obras de artistas de diversas trajetórias. Existem aqueles que estão mais inseridos na cultura aborígene, com pouco contato com o mundo ocidental, e aqueles ditos “artistas urbanos”, que possuem formação em universidades e se relacionam com a arte contemporânea. Na percepção da antropóloga Ilana Goldstein, “na questão da formalidade, as telas abstratas de artistas valorizados como Emily Kame e Rover Thomas aliam deleite estético com conteúdos cosmológicos/tradicionais, e não pretendem fazer provocações conceituais. Já os artistas aborígenes urbanos, fazem releituras satíricas da história da arte e questionam a lógica do sistema das artes, como no caso de Richard Bell, autor do trabalho “Aboriginal art is a white thing”, e de Lin Onus, que se apropria da gravura “A onda”, do japonês Hokusai.”
Um dos artistas de maior projeção internacional, Rover Thomas (1926-1998), com suas paisagens de cor ocre, mudaram a percepção paisagística australiana. Thomas também foi responsável por um novo ritual nas cerimônias do povo Gija, que consiste em inserir tábuas pintadas no rito já tradicional, inspirado pelo sonho que teve com uma parente falecida, no qual ela o ensinou o novo ritual. Sua tia, Queenie McKenzie (1930-1998), que também está presente na exposição, foi a responsável por começar a pintar as tábuas cerimoniais.
Outra artista de destaque é Emily Kame Kngwarreye (1910-1996), considerada, pela crítica, uma das maiores pintoras expressionistas do século XX. Emily começou a pintar aos 79 anos e se tornou a artista mais querida da Austrália. Ela representou o país na Bienal de Veneza e em outros eventos de arte internacional. Suas obras, que parecem abstratas, trazem elementos como nuvens, água, vegetação e flores do deserto, que compõem narrativas e histórias herdadas de seus ancestrais. Na mostra da Casa Fiat de Cultura, a artista estará representada com dois trabalhos.
Sobrinha de Emily Kame, Kathleen Patyarre (1934) realizou pinturas que retratam mapas mentais das regiões onde caminhou com seus pais na infância. A artista é recordista em convites para exposições.
Lily Nungarayi Hargraves (1930) é uma anciã de sua tribo Lajamanu. Ela é responsável pela cerimônia de iniciação feminina, chamada “O Sonhar das Mulheres”, e já pintou diversas telas relacionadas a este ritual, inclusive a que está presente na exposição. Suas obras já foram expostas na França e Estados Unidos.
Richard Bell (1953) é um “artista urbano”, de origem Kamilaroi, que se tornou ativista em prol dos direitos das populações indígenas. Suas críticas mais contundentes se dirigiam à folclorização de um aborígene necessariamente negro, “puro” e exótico.
Outro “artista urbano” é Lin Onus (1948-1996), descendente da etnia Yorta Yorta. Falecido precocemente, ele deixou trabalhos com teor histórico, muitas vezes irônicos e provocativos, caracterizados pela figuração realista. Uma das obras expostas tem inspiração na xilogravura “A Onda”, de 1829, do japonês Katsushika Hokusai. Na recriação de Lin Onus, um cão – herança do colonizador branco – surfa sobre a arraia – animal sagrado – sereno e equilibrado, apesar do perigo iminente. Talvez a tela, em seu conjunto, remeta à capacidade dos povos aborígenes de se reinventarem constantemente, se adaptarem às novas realidades e assimilarem influências de diferentes origens, sem necessariamente perder seu prumo.
Um exemplo da importância da arte aborígene para o mercado das artes, vem do artista Clifford Possum Tjapaltjarrl (1933-2002) da etnia Anmatyerre, que vive no deserto australiano. Ele teve uma tela leiloada por 2,4 milhões de dólares, em 2007, na Southeby’s, arrematada pela National Gallery of Australia. Trata-se de tela produzida em 1977, que condensa diversos fragmentos míticos. Clifford já teve uma obra apresentada no Brasil, durante a Bienal de São Paulo de 1983.
Thompson Yulidjirri (1930) é representante do estilo “raio X”, que traz certa continuidade das pinturas rupestres antigas às bark paintings, imagens executadas sobre entrecasca de árvore. Tal estilo, que usa a representação dos ossos e vísceras dentro dos corpos, como se fossem transparentes pode ser observado na prancha, intitulada Canguru, de 1985.
Além de mostrar as diversas expressões, a exuberância, a vitalidade e a história da arte aborígene ao povo brasileiro, a exposição também estimula a atenção para a arte indígena produzida no Brasil. Enquanto o estilo aborígene é mostrado em vários museus de arte, as expressões artísticas dos indígenas brasileiros são tidas, em sua grande maioria, como artesanato. O Xoha Karajá é um artista indígena brasileiro, da etnia Iny/Karajá. Sua obra foi especialmente comissionada para integrar a exposição. Trata-se de uma mandala, com significado bastante forte: a harmonia entre todos os povos.
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