A seleção de obras

A seleção de obras

A seleção de obras

A exposição é composta por peças da Coo-ee Art Gallery, a mais antiga e respeitada galeria de arte aborígene da Oceania, por obras de instituições governamentais australianas e de coleções privadas.

Segundo o curador da exposição, Clay D’ Paula, especialista em História da Arte pela Universidade de Sidney, a exposição apresenta a variedade e ​a vitalidade dos estilos artísticos encontrados nas diversas regiões australianas.

As obras selecionadas situam-se entre a abstração e figuração. A maioria dos povos aborígenes utilizam símbolos, e não a linguagem escrita. Por isso, o que pode parecer abstrato para o visitante, para eles representa uma mensagem mística. A estética destes artistas é inspirada em narrativas e histórias repassadas de geração a geração, e exprimem muitas vezes o seu relacionamento com o universo, a natureza e o espiritual.

Ao longo da mostra, é possível perceber as diferenças no design, no estilo e nas cores da paleta dos artistas de cada região. A paisagem presente na arte produzida na região de Kimberly, por exemplo, revela uma terra de grandes contrastes, cheia de rios e cachoeiras. Arnhem Land (Terra de Arnhem) é a região das bark paintings. Em Tiwi Island (Ilhas Tiwi) as obras trazem elementos de design geométrico relacionados a lugares sagrados ou a mudança das estações. Nas obras da região de Balgo, os visitantes poderão observar a presença de cores intensas, muitos tons de verde, roxo e cores brilhantes. Estes trabalhos são denominados “arte do isolamento” por serem produzidos dentro do deserto ocidental da Austrália, área muito isolada dos centros urbanos. Já a arte produzida por aborígenes que vivem nos centros urbanos trazem questões ligadas às mazelas da colonização e à discriminação ainda sofrida por eles.

As diferenças da arte produzida em cada região passam também pelas técnicas utilizadas. A antropóloga e consultora da exposição Ilana Goldstein aponta algumas dessas diferenças: ” materiais que são comumente usados no Deserto Central da Austrália como tinta acrílica, tela e pincéis industrializados não são utilizados pelos artistas da região de Arnhem Land, no norte tropical da Austrália. Os artistas dessa região  preferem usar camadas do tronco do eucalipto nativo, tintas feitas de minerais do solo, pincéis de fios de cabelo e gravetos.”.

As obras selecionadas para a exposição são de artistas renomados, que já tiveram os seus trabalhos expostos no MoMA e Metropolitan de Nova Iorque, Bienais como a de Veneza, São Paulo e Sidney, entre outros eventos de prestígio internacional, como o Documenta, em Kassel. “Essa coleção é um presente à população brasileira. Em um acervo de mais de três mil obras, selecionamos aquelas mais significativas. Muitas já foram publicadas em inúmeros catálogos de arte, citadas em teses de dourado e exibidas em várias instituições de importância na Austrália, Europa e Estados Unidos”, conta o curador brasileiro Clay D´Paula, que assina a curadoria com os australianos Adrian Newstead e Djon Mundine.

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, trazer essa exposição a Belo Horizonte é um modo de propor reflexões sobre as semelhanças entre aborígenes australianos e ameríndios brasileiros, historicamente oprimidos pelos colonizadores, e de debater a importância do reconhecimento do potencial artístico desses povos. “Austrália e Brasil podem estar distantes, geográfica e culturalmente, mas têm um passado comum, o dos povos autóctones que os habitaram ab origine e tiveram seus destinos violentamente alterados pela colonização. Os artistas aqui presentes dão testemunho de sua continuidade cultural, no âmbito de uma forma de vida social interrompida bruscamente pela chamada civilização, mas que continua viva na expressão artística. Cada um deles se expressa de modo peculiar, mas traz, em sua criação, as referências de uma simbologia ancestral que lhes é comum. Podemos aprender com esses artistas australianos que nos ensejam, com seu trabalho, uma reflexão sobre o que é cultura, o que é arte e, acima de tudo, o que significa, afinal, ser civilizado”.

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Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.

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