Pilotis é uma exposição que traça a trajetória da artista visual Katia Wille nos últimos dois anos. Resultado, ainda em construção, de um período intenso no qual a artista, tal como as inúmeras nadadoras que navegam e povoam suas obras, mergulha em seu percurso pessoal e artístico.
Para cada uma das mulheres que habita suas pinturas há um nome. Um nome qualquer, mas um nome que faz, de cada uma delas, uma. Uma a uma.
Em Pilotis, série inspirada na atmosfera de um bloco fictício de Carnaval, e que também intitula a exposição, é em meio à flora e aos sentidos da cidade natal da artista que estão Danielle, Cristiane, Aninha, Viviane, Jacqueline, Lívia, Martina, Katia, Flavia. Mas, para mim, também as referências de Katia, e sem dúvida as minhas, estão presentes: Marielle, Virginia, Anita, Paula, Pagu, Nise, Clarice, Lygia.
Ali reunidas, elas não fazem bloco, ainda que por meio do movimento que produz a tela e a vida se pinte um coletivo e um feminino através de questões como a maternidade e o corpo de mulher. Em diálogo com obras de outras séries, a vegetação invade a cena ou a domina. Metamorfose ou metáfora sempre incompleta do feminino, a exuberância que nos encanta o olhar, vela e revela, no furta-cor, nos pedaços de corpos, nas sobreposições de camadas em cores, a estranheza que pode nos acometer todas as vezes que nos perguntamos sobre nossa posição no mundo. O que fazer? O que dizer? O que pintar? A que distância estamos do que fomos?
No necessário isolamento que passamos em 2020 e 2021, Katia Wille, minha amiga de infância, me procurou em busca de interlocução para seu trabalho. Aceitei o chamado sem hesitar e, paradoxalmente, também sem saber qual seria nosso caminho.
Katia compartilhava suas reflexões, por meio de ideias, escritos e imagens, me estimulava a ler autoras e autores que ela agora descobria ou revisitava. Me apresentava artistas que eu ainda não conhecia ou que passei a ver por novos ângulos. Seu olhar inquieto sobre tudo me abria sempre outras perspectivas. Ela estava de fato em um mergulho profundo, interrogando e revendo as entranhas de sua poética e vida, que agora se articulavam com uma força que me permitiu compreender ainda mais que, entre a vida vivida e a obra criada, não há uma passagem direta, mas sim a própria obra, lugar onde as existências podem se refundar, a da artista e das pessoas que experienciam seus diferentes trabalhos.
Katia nos convida às suas problemáticas e inquietações, partindo do feminino para retornar a ele e a elas. Abrindo ao público seu espaço, nos oferece um local onde poderemos, em uma das salas que compõem a exposição, em meio a obras e registros de seu processo, depositar ali também nossas experiências, nossos testemunhos e nosso caminhar pelas obras. Trata-se de um movimento contínuo entre o dentro e o fora que, por assim ser, acaba por perder seus contornos tão definidos. Isso é um pilotis. Pilotis é isso.
Praça da Liberdade, nº10, Funcionários | CEP: 30140-010 | Belo Horizonte/MG - Brasil
Tel: +55 (31) 3289-8900
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Visitas agendadas sob consulta
TODA PROGRAMAÇÃO DA CASA FIAT DE CULTURA É GRATUITA
Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.
Plano Anual Casa Fiat de Cultura
2024 – PRONAC 234590