Instalação
A sala expositiva do hall principal abriga a instalação (sem título) composta por tronco, raízes e pequenas esculturas em cerâmica. A árvore é uma aroeira centenária que ficava na fazenda da artista, em Esmeraldas e que, segundo ela, possui formas que lembram animais. Quando a árvore morreu, Ana Amélia a utilizou para construir a grande instalação desta exposição. Com uma única frase, a artista explica a obra: “é sobre o desmatamento”. Ela incorporou à apresentação da peça cerca de 700 esculturas de pequenas dimensões feitas em terracota. Posicionadas ao redor da árvore, as peças representam figuras híbridas, que lembram pessoas e, ao mesmo tempo, elementos da natureza, como raízes e animais – evidenciando novamente o zoomorfismo como característica importante da instalação –, e que parecem se deslocar pelo espaço.
“Trata-se de uma metáfora para a ‘diáspora’ atual vivida em todo o mundo, em que grandes contingentes populacionais deslocam-se, vítimas de preconceito, de perseguição política, religiosa e étnica e de desastres ambientais”, explica a curadora Fabíola Moulin. “Forças poéticas de convergência e de dispersão travam um embate com o público, o qual acaba por integrar-se ao numeroso grupo de figuras híbridas, ocupando seu lugar na multidão”, completa o curador Marconi Drummond.
Nas esculturas, o ofício de modelagem da artista parece revisitar a cerâmica feita por etnias indígenas do Alto Xingu. Entre os índios Waurá, inclusive, a produção da cerâmica é uma atividade feminina. Também é possível identificar nas esculturas de Ana Amélia referências às Vênus paleolíticas, pois suas cerâmicas são, assim como as antigas estatuetas de Vênus, destituídas de braços, pés e com certas partes da anatomia humana exageradas.
Para permitir uma experiência multissensorial, a instalação é acompanhada por uma trilha sonora composta para a instalação, por Sarah Assis. A trilha possui diversas camadas de som, com melodias, ruídos do cotidiano urbano e de multidão. Fazem parte da trilha um trecho da música “Prelúdio para violoncelo em sol maior”, das Suítes de Bach, melodias em zither e sanpoor, instrumentos de cordas do Oriente Médio, violinos árabes, percussão asiática, efeitos sonoros urbanos, como o barulho de portas e aviões, e sons de manifestações urbanas; uma de Barcelona (Espanha), contra os entusiastas do nazismo, e outra de Belo Horizonte, contra a Copa do Mundo FIFA 2014. Sarah Assis é musicista e trabalha compondo trilhas para teatro e cinema. A trilha sonora indica movimentação, assim como a metáfora da instalação, em que as pequenas figuras simbolizam pessoas e a natureza em seus deslocamentos.
Desde 2002, a artista tem se dedicado mais à criação de instalações e cerâmicas, sempre mantendo forte em suas obras a preocupação com a preservação da natureza.
Animação
No videowall do hall principal é exibida uma animação (sem título) composta por sobreposições de desenhos dos cadernos da artista. Vários desenhos foram feitos especialmente para a exposição, outros fazem parte do livro “Margem” (2005), sobre suas inquietações quanto à poluição e extinção dos rios. Nesta obra são apresentados, novamente, seres híbridos, desta vez com linguagem pictográfica. O vídeo foi produzido pela Voltz Design, desenvolvido por Leonardo Dura e Cláudio Santos.
Desenhos
Na Piccola Galleria estão os 45 desenhos sobre papel que Ana Amélia criou para essa exposição, entre 2013 e 2017. Os elementos vegetais retornam ao centro do argumento poético da artista por meio dessas obras que permitem diversas leituras, como indagam os curadores Marconi e Fabíola: “espécies arbóreas ou afluentes de rio, copa ou raiz? Artérias? Essa alternância de sentidos é estruturada ora em árvores desfolhadas, desvitalizadas, ora em raízes axiais [raízes principais que se ramificam] gráficas”.
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