Inventar um corpo na vertigem do vazio
0 homem se perguntará indefinidamente de que lama,
de que argila ele é feito.
Gaston Bachelard
Marcadamente representada em instrumentos utilitários, a cerâmica é um dos grandes adventos da civilização, profundamente ligada também aos fundamentos da existência – da manutenção da vida ao abrigo de corpos em sepultamentos – com objetos rituais e simbólicos que participam da história desde o início da jornada humana.
O percurso de Flávia Soares teve início com objetos utilitários em um ateliê familiar na cidade de Contagem, estado de Minas Gerais e, agora, encontra a síntese da inquietação artística que sempre a acompanhou. A ceramista nasceu e cresceu em São Gotardo, também no estado de Minas Gerais, mais precisamente em uma região do Alto Paranaíba, no entorno da nascente do rio São Francisco. A condensação da relação com esse lugar de origem – uma rica natureza, rodeada por águas, florestas e matas – se revela nesta exposição com vasos – surgidos do enigma e do espanto – que extrapolam a função meramente utilitária e revelam a invenção silenciosa, surgida antes do ponto máximo de maturação dos elementos da queima, pela ação do fogo e do calor. Flávia Soares transforma barro em corpo cerâmico e, nesse processo, ela inclui sua relação com a terra e com o orgânico e segue desestabiizando hierarquias e desbravando uma linguagem artística própria.
Em “A ficção como cesta: uma teoria”, a escritora Ursula K. Le Guin nos coloca perante uma questão primordial: “que histórias contaríamos se, em vez do osso, que depois é machado, que depois é espada, que depois é uma pistola, um canhão, uma metralhadora, que depois é uma bomba, considerássemos os objetos que contêm outras coisas”? Objetos que abrigam e acolhem, os primeiros objetos civilizatórios, “a invenção mais importante da humanidade”: potes, vasos, cestos. É onde – com delicada e generosa ferocidade, com objetos que abrigam o insondável do feminino – se encontra o trabalho de Flávia Soares.
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