Como pisar suavemente na terra

Como pisar suavemente na terra

até 26 de novembro de 2023

A ancestralidade e o feminino elementar afro-indígena estão presentes nas obras da artista  

Do rural para o urbano, das fotografias para o lambe-lambe. Foi a partir dessa confluência que a artista baiana Jessica Lemos reuniu os trabalhos que integram “Como pisar suavemente na terra”, nova exposição da Casa Fiat de Cultura. A mostra foi escolhida no 6º Programa de Seleção da Piccola Galleria e ficará em cartaz entre os dias 7 de outubro e 26 de novembro de 2023. Com sete obras, a artista produz uma narrativa sobre memórias afro-indígenas e apresenta rastros de sua infância familiar, experiências com o cultivo da mandioca, aspectos sagrados desse alimento, além de ressaltar o respeito pela natureza. No dia 17 de novembro, às 19h, será realizado um bate-papo virtual com a artista, no YouTube da Casa Fiat de Cultura. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pela Sympla.   

Em suas obras, Jessica Lemos elege o rural, representado por sua ancestralidade, em fotografias e fotoperfomances; e o urbano, representado pelo que as periferias criaram enquanto expressão artística, com o pixo e o lambe-lambe. Dos dualismos investigados pela artista, é possível encontrar temáticas que fazem um embate à colonialidade e que remetem ao sertão e às suas memórias afetivas. Sua relação com a mandioca – alimento sagrado e importante para a cultura dos povos originários – carrega lembranças da infância e reverencia a transmissão de ensinamentos vindos de sua família. “Foi através do contato com a terra, com a agricultura familiar, dessa conexão ancestral vinda do sertão da Bahia que a mandioca chega a esta narrativa e se torna elemento central da exposição”, explica.  

Na série “Apagamento”, a artista Jessica produz seis cópias fotográficas de uma reprodução da pintura Engenho de mandioca (1892), de Modesto Brocos, que retrata uma casa de farinha do período escravocrata. Para este trabalho, ela queima gradualmente as imagens e realiza a montagem em linha reta com os pedaços. “Esta ação surge com o desejo de confrontar as representações de pessoas negras em registros do século XIX, fazendo alusão ao apagamento de sua história”, revela Jessica.  

Em contraponto, ela elabora “Raíz de vênus” e fotografa a si mesma com pedaços de mandioca utilizados como indumentária na região do peito, trazendo este elemento para o próprio corpo e ressaltando o seu valor. Assim também acontece nas fotoperfomances “Tudo que a boca come”, sugerindo uma analogia entre o seio que amamenta e a raiz que alimenta, e em “Origem II”, que representa a mulheridade afro-indígena, evocando a figura de uma bruxa-sertaneja. Já em “Travessia”, composta por nove imagens, a artista interage com uma moldura que compõe um portal em meio a natureza. “O corpo está muito presente em minhas imagens. Desta forma, reforço a ideia de que somos natureza”, ressalta.  

Tais registros são impressos em lambe-lambe, como uma forma de fazer esse diálogo entre o corpo que sai da terra, da natureza, e o corpo que transita pela cidade. Segundo a artista, o lambe-lambe permitiu que o seu trabalho chegasse a diversos públicos. “O lambe-lambe está livre, na rua, e ao mesmo tempo em que é efêmero, também pode se tornar duradouro. Foi dessa forma que me entendi como artista urbana e representei esse corpo em deslocamento”, explica. Ainda compõem a exposição o pixo com a frase “Fecho os olhos para sonhar, por isso enxergo”, e o vídeo performance “Remédio ou veneno?”. 

A pesquisadora, educadora em arte e curadora Joyce Delfim, que assina o texto curatorial da exposição, completa reforçando que “nas produções de Jessica, o corpo torna-se permeável com a terra por meio da performatividade. Assim, a artista não escolhe compor com a cidade por uma ode ao urbano ou ao projeto de habitabilidade ocidental moderno que ela significa, ao contrário, ela nos convoca a pisar suavemente na terra.”  

A mostra “Como pisar suavemente na terra” é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Fiat e do Banco Safra, e copatrocínio do Banco Stellantis e da Brose do Brasil. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.      

 

Praça da Liberdade, nº10, Funcionários | CEP: 30140-010 | Belo Horizonte/MG - Brasil
Tel: +55 (31) 3289-8900
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Visitas agendadas sob consulta

TODA PROGRAMAÇÃO DA CASA FIAT DE CULTURA É GRATUITA

Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.

Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.

Plano Anual Casa Fiat de Cultura
2024 – PRONAC 234590