As Transformações

As Transformações

Belo Horizonte completa 125 anos. A cidade pensada para abrigar a nova capital do estado de Minas Gerais, no fim do século XIX, foi planejada e construída sob a égide do pensamento moderno e republicano. Nas primeiras décadas do recém-inaugurado centro administrativo, tradição e modernidade estabeleceram diálogos e forjaram contradições. Apesar da pacata região do antigo Curral del Rei ainda apresentar um caráter bucólico, passou a abrigar multidões e bondes que circulavam pelo centro da cidade. Ainda na década de 1920 a população já presenciava a demolição de alguns edifícios e as rápidas transformações urbanas foram logo percebidas por artistas, intelectuais, jornalistas e pela própria população local. A mentalidade moderna anseia pelo novo, e de forma acelerada, seja na arquitetura, na urbanização, na mobilidade, nas artes ou no comportamento.      

Alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade revelam a insatisfação do poeta com essa dinâmica frenética da cidade, uma tendência da literatura modernista, apontando as contradições da modernidade pois, ao mesmo tempo em que ironizava o lento desenvolvimento da cidade, criticava as rápidas transformações. Drummond expressava o seu desgosto em relação às construções que faziam referência às suas experiências afetivas, sendo destruídas em função do desenvolvimento e da expansão urbana.  

O Fim das Coisas 

Fechado o Cinema Odeon, na Rua da Bahia.

Fechado para sempre.

Não é possível, minha mocidade

fecha com ele um pouco.

Não amadureci ainda bastante

para aceitar a morte das coisas (…) 

Não aceito, por enquanto, o Cinema Glória,

maior, mais americano, mais isso-e-aquilo.

Quero é o derrotado Cinema Odeon,

o miúdo, fora de moda Cinema Odeon (…)

Exijo em nome da lei ou fora da lei que se reabram as

portas e volte o passado (…)  

Trechos do poema de Carlos Drummond de Andrade, O Fim das Coisas, feito em parceria com Pedro Nava, em 1928 (Poesia e Prosa/RJ, 1988). A primeira sala de cinema de BH foi no Teatro Paris, inaugurada em 1906. Em 1912 passou a se chamar Cinema Odeon, logo desativado em 1928.  

Visualizar como um espaço da cidade era no passado e, como está hoje, suas mudanças e permanências com o passar do tempo, nos possibilita conhecer melhor a trajetória da cidade, refletir sobre o seu futuro, contribuindo para a preservação da memória.  

Segundo o fotógrafo e escritor Marcos Xavier, “Ver as imagens de ontem e de hoje nos traz inúmeras reflexões. Modernidades trazem conforto e praticidade, mas ao mesmo tempo apagam grande parte do nosso passado. Inúmeras construções da época da inauguração da cidade deram lugar a prédios mais modernos, outras resistem bravamente. Imagens do início do século XX mostram os fícus da Avenida Afonso Pena ainda como pequenas mudas; outras mostram o esplendor das árvores já adultas enfeitando a cidade; por fim, as atuais, vislumbrando seu fim. A cidade hoje continua pulsando, olhando para o futuro, mas o olhar sobre o passado revela parte de nossa essência, nos conta sobre nossas origens, nossos antepassados, parte intrínseca de nós mesmos”.  

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