FUGA – ANA AMÉLIA DINIZ CAMARGOS NA CASA FIAT DE CULTURA
Exposição da artista mineira de 88 anos aborda inquietações sobre degradação da natureza e fluxos migratórios da sociedade moderna
De 10 de outubro a 26 de novembro de 2017, a Casa Fiat de Cultura apresenta a exposição inédita: Fuga, da artista plástica Ana Amélia Diniz Camargos, com curadoria de Marconi Drummond e Fabíola Moulin. Com licença poética, a artista mineira expressa sua conexão com a natureza e o incômodo diante da degradação da natureza. Expressa também suas preocupações com os atuais fluxos migratórios, induzidos pelos conflitos sociais. “Esta exposição chega providencialmente em um momento em que nossa sociedade está sofrendo fortes opressões”, ressalta o curador Marconi Drummond. A mostra de arte contemporânea é dividida em três eixos e conta com 47 obras, entre desenhos, vídeo e uma instalação com cerca de 700 esculturas em cerâmica de pequenas dimensões. A entrada é gratuita.
Aos 88 anos, Ana Amélia continua incansavelmente seu fazer artístico. Uma semana antes de abrir a exposição, a artista tirava do forno as últimas peças de cerâmica que compõem a grande instalação da mostra. “É encantador ver como a pessoa Ana Amélia Diniz Camargos, que mantém a alma simples da menina feliz de Ponte do Paraúna, convive com essa artista ousada, inovadora e que trafega por múltiplas linguagens. O público irá se encantar com essa expressão poética tão mineira e tão universal presente no mundo de Ana Amélia”, comenta o Presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira.
A exposição Fuga é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Casa Fiat de Cultura, com o patrocínio da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), CNH Industrial Capital, Banco Fidis, Fiat Chrysler Finanças, New Holland Construction, Banco Safra e Verde Urbanismo. A mostra conta com apoio da Construtora Diniz Camargos, Imobiliária Singular e Aprimori Centro Estético, e apoio institucional do Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), Governo de Minas e Governo Federal.
Os eixos da exposição
Instalação
A sala expositiva do hall principal abriga a instalação (sem título) composta por tronco, raízes e pequenas esculturas em cerâmica. A árvore é uma aroeira centenária que ficava na fazenda da artista, em Esmeraldas e que, segundo ela, possui formas que lembram animais. Quando a árvore morreu, Ana Amélia a utilizou para construir a grande instalação desta exposição. Com uma única frase, a artista explica a obra: “é sobre o desmatamento”. Ela incorporou à apresentação da peça cerca de 700 esculturas de pequenas dimensões feitas em terracota. Posicionadas ao redor da árvore, as peças representam figuras híbridas, que lembram pessoas e, ao mesmo tempo, elementos da natureza, como raízes e animais – evidenciando novamente o zoomorfismo como característica importante da instalação –, e que parecem se deslocar pelo espaço.
“Trata-se de uma metáfora para a ‘diáspora’ atual vivida em todo o mundo, em que grandes contingentes populacionais deslocam-se, vítimas de preconceito, de perseguição política, religiosa e étnica e de desastres ambientais”, explica a curadora Fabíola Moulin. “Forças poéticas de convergência e de dispersão travam um embate com o público, o qual acaba por integrar-se ao numeroso grupo de figuras híbridas, ocupando seu lugar na multidão”, completa o curador Marconi Drummond.
Nas esculturas, o ofício de modelagem da artista parece revisitar a cerâmica feita por etnias indígenas do Alto Xingu. Entre os índios Waurá, inclusive, a produção da cerâmica é uma atividade feminina. Também é possível identificar nas esculturas de Ana Amélia referências às Vênus paleolíticas, pois suas cerâmicas são, assim como as antigas estatuetas de Vênus, destituídas de braços, pés e com certas partes da anatomia humana exageradas.
Para permitir uma experiência multissensorial, a instalação é acompanhada por uma trilha sonora composta para a instalação, por Sarah Assis. A trilha possui diversas camadas de som, com melodias, ruídos do cotidiano urbano e de multidão. Fazem parte da trilha um trecho da música “Prelúdio para violoncelo em sol maior”, das Suítes de Bach, melodias em zither e sanpoor, instrumentos de cordas do Oriente Médio, violinos árabes, percussão asiática, efeitos sonoros urbanos, como o barulho de portas e aviões, e sons de manifestações urbanas; uma de Barcelona (Espanha), contra os entusiastas do nazismo, e outra de Belo Horizonte, contra a Copa do Mundo FIFA 2014. Sarah Assis é musicista e trabalha compondo trilhas para teatro e cinema. A trilha sonora indica movimentação, assim como a metáfora da instalação, em que as pequenas figuras simbolizam pessoas e a natureza em seus deslocamentos.
Desde 2002, a artista tem se dedicado mais à criação de instalações e cerâmicas, sempre mantendo forte em suas obras a preocupação com a preservação da natureza.
Animação
No videowall do hall principal é exibida uma animação (sem título) composta por sobreposições de desenhos dos cadernos da artista. Vários desenhos foram feitos especialmente para a exposição, outros fazem parte do livro “Margem” (2005), sobre suas inquietações quanto à poluição e extinção dos rios. Nesta obra são apresentados, novamente, seres híbridos, desta vez com linguagem pictográfica. O vídeo foi produzido pela Voltz Design, desenvolvido por Leonardo Dura e Cláudio Santos.
Desenhos
Na Piccola Galleria estão os 45 desenhos sobre papel que Ana Amélia criou para essa exposição, entre 2013 e 2017. Os elementos vegetais retornam ao centro do argumento poético da artista por meio dessas obras que permitem diversas leituras, como indagam os curadores Marconi e Fabíola: “espécies arbóreas ou afluentes de rio, copa ou raiz? Artérias? Essa alternância de sentidos é estruturada ora em árvores desfolhadas, desvitalizadas, ora em raízes axiais [raízes principais que se ramificam] gráficas”.
Sobre Ana Amélia Diniz Camargos
“Minha vida foi uma colcha de retalhos”, brinca Ana Amélia, que teve uma infância muito feliz, “na beiradinha do rio” Paraúna, em Presidente Juscelino (MG), onde nasceu, em 1929. Ela experimentou todos os elementos típicos de uma infância do interior mineiro, como nadar no rio, pegar água no rio e lenha na mata, comer goiaba e manga no pé. Quando morava em Curvelo, no colégio interno, sonhava em sair, seja com os ciganos ou com o rio. Sabia que o rio saía de lá e encontrava com o mar. E sempre foi apaixonada pelas artes. Teve 7 filhos durante o casamento e mudou-se para Belo Horizonte em 1950. Encantou-se com os prédios e a luminosidade da cidade.
Com seus filhos já criados, entrou na Escola Guignard. Teve como mestres Amilcar de Castro, Solange Botelho, Sara Ávila, Eymard Brandão e Lisete Meinberg. Mas se percebeu artista quando teve um desenho seu selecionado para capa do Suplemento Literário. Fez curso de cerâmica com Peter Soldner, em New Jersey (USA) e atuou como professora de pintura e cerâmica, desenvolvendo atividades como voluntária junto a comunidades carentes. Também foi professora de escolas da periferia de BH, bem como da Escola Guignard. Para Ana Amélia, “ensinar arte na periferia é mais preparar para a vida do que para a arte”. Além disso, teve um ateliê coletivo com Eliana Rangel, Fátima Pena, José Altino e Pedro Augusto.
Em sua trajetória, Ana Amélia realizou diversas exposições individuais e coletivas em todo o Brasil, e foi vencedora de vários prêmios, entre eles o do XII Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, no Museu da Pampulha (1980), e o do Salão Nello Nuno, em Viçosa (1978).
Sobre o curador Marconi Drummond
Mestre em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes (UFMG), com especialização em Gestão Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
Já foi Curador do Museu de Arte da Pampulha, Superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e Diretor da Escola de Arte da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP).
Desde 1995 trabalha como artista gráfico para instituições como Fundação Clóvis Salgado e Centro Cultural do Banco do Brasil. Em 2009, em parceria com Marcelo Drummond, venceu o Prêmio Jabuti na categoria “Melhor Projeto Gráfico” pela exposição “Design Brasileiro Hoje – Fronteiras”, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
Marconi também participou de uma exposição na França, intitulada “We Love Books – A World Tour”, no Centre du Graphisme d’Échirolles, e foi curador, junto à Fabíola Moulin, da mostra “Quase poema – Cartas e outras escrituras drummondianas”, na Casa Fiat de Cultura.
Sobre a curadora Fabíola Moulin
Graduada em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes (UFMG), mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), com especialização em arte contemporânea pela Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
Já traballhou como Diretora de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado e do Museu de Arte da Pampulha, e como Diretora de Difusão Museológica na Secretaria de Estado de Cultura em Minas Gerais.
Fabíola já participou de comissões de análise de programas de seleção cultural, foi curadora de diversas exposições, entre elas “Quase poema – Cartas e outras escrituras drummondianas”, junto a Marconi Drumond, na Casa Fiat de Cultura. Realizou exposições coletivas e individuais. Ela também foi vencedora do Grande Prêmio no Salão Nacional de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte.
SERVIÇO
Exposição
Fuga – Ana Amélia Diniz Camargos na Casa Fiat de Cultura
10 de outubro a 26 de novembro de 2017
Terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Entrada gratuita
Informações
(31) 3289-8900
Praça da Liberdade, nº10, Funcionários | CEP: 30140-010 | Belo Horizonte/MG - Brasil
Tel: +55 (31) 3289-8900
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Visitas agendadas sob consulta
TODA PROGRAMAÇÃO DA CASA FIAT DE CULTURA É GRATUITA
Atendimento acessível sob demanda, mediante disponibilidade da equipe.
Plano Anual Casa Fiat de Cultura
2024 – PRONAC 234590