Com que Roupa eu Vou na Casa Fiat de Cultura

Introdução

Esta é uma história antiga, é uma idéia que tem muito tempo e muitas histórias. Começou com outro nome, no início dos anos 1980. Chamava-se “Como se vestem os brasileiros” e era um pouco a história da moda e de como o povo se vestia pelo Brasil afora.

Nesta época eu trabalhava no SESC (Serviço Social do Comércio), que tinha um consultor francês, o sociólogo Jofre Dumazedier, especialista em lazer. Dumazedier analisava com os técnicos do SESC suas propostas de trabalho e projetos.

Avaliando comigo a idéia de uma exposição sobre roupas, me fez pensar em colocar o assunto de maneira mais crítica que documental, propondo importantes considerações sobre a relação das pessoas e sua forma de vestir.

Por que, no Brasil, temos que seguir a moda que vem de fora? Por que aceitar o enquadramento do gosto por uma estética colonizadora, quando ela é até uma agressão ao corpo, contrária ao nosso clima e forma de vida em um país tropical? Como os mesmos códigos do trajar e posturas de outras épocas se repetem até hoje nas atitudes e nas convenções dos grupos? A força de comunicação da mídia (televisão, jornal, revista, internet…), estimula o consumo e propõe códigos que influenciam e uniformizam as escolhas das pessoas.

Um texto do pensador italiano Umberto Eco, do livro Psicologia do Vestir: O Hábito Fala pelo Monge, foi importante na definição do conceito da exposição, pois analisa a linguagem do vestuário e seus códigos, sua importância para entender a sociedade e toda as suas formas de falar. Ele termina dizendo: “Porque a sociedade, seja de que forma se constituir, ao constituir-se, ‘fala’. Fala porque se constitui e constitui-se porque começa a falar. Quem não sabe ouvi-la falar onde quer que ela fale, ainda que sem usar palavras, passa por essa sociedade s cegas: não a conhece, portanto não pode modificá-la.”

A exposição seria resultado, como sempre neste tipo de projeto, de uma pesquisa representativa de várias regiões do país, de norte a sul. Não aconteceu na ocasião. Muitas vezes os projetos não se concretizam.

No fim dos anos 1990 retomei a idéia, mantendo o mesmo conteúdo, que, apesar de decorridos vinte anos, continuava – e continua – atual. O título mudou para Com que roupa eu vou, inspirado na música de Noel Rosa. A exposição, que se concretiza agora, trata da relação entre a roupa e quem a veste, investigando as intenções de cada um ao escolher uma peça do vestuário, o quanto consideramos as nossas escolhas pessoais, independentemente de modismos, e o quanto optamos por determinados códigos sem nos darmos conta de que estamos fazendo isso. Através do traje as pessoas se expressam e se comunicam. Claro que a atitude é também um componente importante. Mas ela fala junto com a roupa, suas mensagens se complementam.

No livro Primeiras Estórias, no conto Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha, João Guimarães Rosa relata como apesar de vestidas de modos tão diferentes duas pessoas podem ser iguais: “A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas-virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.” É dessas semelhanças – e diferenças – que falamos aqui.

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